sexta-feira, 12 de setembro de 2014


12/09/2014 08h22 - Atualizado em 12/09/2014 08h24

Facção que matou PM em Piracicaba sorteou rifa de carros e casas, diz MP

Modalidade é citada em denúncia feita ao Judiciário baseada em escutas.
Um policial militar morreu;outro foi baleado na cabeça e segue internado.

Do G1 Piracicaba e Região
Denúncia do Ministério Público de Piracicaba contra facção criminosa suspeita de atentados contra policiais militares (Foto: Alessandro Meirelles/G1)Denúncia cita formas de arrecadação, como tráfico de drogas, 'caixinha' e rifa (Foto: Alessandro Meirelles/G1)
A facção criminosa que atua dentro e fora de presídios no estado de São Paulo sorteava rifas em Piracicaba (SP) para financiar gastos com assaltos à população e ataques contra policiais militares. Os bilhetes eram vendidos ao preço de R$ 30 aos integrantes, familiares e outros criminosos simpatizantes à organização. Imóveis e veículos eram oferecidos como premiação.
A informação faz parte da denúncia apresentada nesta semana pelo Ministério Público (MP) ao Judiciário.  O documento aponta a participação de 10 pessoas do grupo no planejamento e execução do policial militar Arnaldo Francisco de Brito, ocorrido no dia 14 de junho.
Brito levou 13 tiros na porta do restaurante Habib's do bairro Alto. O sargento morreu no hospital, oito dias após o crime. A denúncia do MP é baseada na investigação da Polícia Civil, que fez escutas telefônicas entre os integrantes que atuavam dentro e fora da cidade.
Evidências
Com base nas conversas interceptadas, os promotores também descobriram evidências da ação do grupo em um segundo crime, cometido no último dia 25, contra outro PM. O policial levou um tiro na cabeça, passou por cirurgias e segue internado em estado grave.
Os dois atentados seriam uma represália da organização à morte de um integrante, dois dias antes do atentado contra Brito. De acordo com a apuração do MP, a "conta"  dos criminosos era de dois PMs sem vida para cada comparsa morto. 
Áreas por DDD
Piracicaba estaria na “Sintonia Geral do Interior”, segundo o MP. Esse setor tem a responsabilidade de “administrar, organizar e difundir a facção nas cidades e regiões do interior do estado de São Paulo”, cita a peça que irá fazer parte do processo criminal. Os territórios são divididos de acordo com os DDDs das regiões: 012, 014, 015, 016, 017, 018 e 019.
O tráfico de drogas é citado pelos promotores como a principal fonte de renda dos criminosos. A denúncia cita, inclusive, que a atividade gera lucro dentro e fora do sistema carcerário.
Rifas
A arrecadação de dinheiro com a promoção de rifas era imposta aos integrantes da cidade, que tinham o “dever de comprar” 20 números ao preço de R$ 30 a cada bimestre. Os prêmios sorteados eram apartamentos, casas, carros e motos.
Em uma conversa interceptada no dia 24 de junho, dois integrantes conversam sobre as rifas em Piracicaba. Um deles, considerado o “sintonia geral da rua”, cargo mais alto na hierarquia municipal da facção, fala que ficou “oito meses na ‘geral’ e que só ele e outros dois comparsas “pegavam as rifas” nesse período. O trecho da conversa não avança sobre o assunto, mas dá a impressão do ‘geral’ estar ensinando a tarefa para o outro bandido.
O tempo autorizado pela Justiça para o monitoramento telefônico não permitiu aos investigadores descobrir detalhes sobre os produtos e imóveis oferecidos pela facção.
Policial militar é baleado na cabeça em bairro da periferia de Piracicaba (Foto: Fernanda Zanetti/G1)Policial militar é baleado na cabeça em bairro da
periferia de Piracicaba (Foto: Fernanda Zanetti/G1)
Caixinha mensal e plano de execução
A denúncia, no entanto, cita outra forma de organização dos bandidos. Trata-se de um setor chamado “Cebola”, que cobra uma “caixinha mensal” dos integrantes em liberdade. A mensalidade obrigatória é de R$ 650, de acordo com a apuração do MP.
Plano de execução
Em outro trecho do diálogo, os mesmos indiciados falam sobre o plano de matar Brito. O “geral” faz uma citação (pelo apelido) a um terceiro criminoso, dizendo que ele estava na caminhada" (na morte do policial militar). Logo após, pergunta como está o "andamento" (planejamento para os ataques contra PMs) e diz que o "sapato" (arma) irá "encostar" (será entregue) e que outros comparsas teriam "quantos quisessem vestir" (quantas armas precisassem).
Por fim, o “geral” pergunta se a "caminhada que elaboraram vai dar certo" (a realização dos ataques) e ouve que o plano já contava com "as duas rodas"(moto) e uma molecada boa de fuga” e também “de confiança”.
Denúncia do MP
O MP apresentou, no último dia 8, denúncia ao Judiciário de Piracicaba contra 11 suspeitos de integrar uma facção criminosa que atua na região. Dez indiciados são apontados pelos promotores como responsáveis pelo assassinato do sargento da Polícia Militar Arnaldo Francisco de Brito. Todos estão presos preventivamente no Centro de Detenção Provisória (CDP) de Piracicaba. O último suspeito, detido no dia 6 deste mês, em Limeira (SP), não responderá pelo homicídio, já que estava encarcerado na época do crime.
Promotores Aloísio Antônio Maciel Neto e Luciano Gomes de Queiroz Coutinho atuam em Piracicaba (Foto: Alessandro Meirelles/G1)Promotores Aloísio Antônio Maciel Neto e Luciano
Gomes de Queiroz (Foto: Alessandro Meirelles/G1)
Os dez presos vão responder pelos crimes de homicídio duplamente qualificado e organização criminosa. Se forem condenados, as penas podem chegar a 38 anos de prisão.
"Combinavam atentados contra policiais militares, tráfico de entorpecentes e roubos. Toda a estrutura que a facção tem dentro do estado ela reproduz em células regionais. Isso é algo grave que a segurança pública precisa ter conhecimento e a sociedade também", disse o promotor Aloísio Antônio Maciel Neto.
Ainda de acordo com Neto, entre os 10 suspeitos presos, dois são considerados líderes. "Comandavam no sentido de transmitir as ordens de fora (da Comarca) para serem cumpridas. As outras oito pessoas têm papéis bem definidos, de acordo com as provas juntadas. E todas colaboraram para o crime", acrescentou.

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