- Atualizado em
Seleção brasileira voa na Copa-2014 com o mesmo comandante do tetra
Marcos Saeger, que conduz avião da equipe há 21 anos, revela frase de Romário, poltrona de Felipão, comida preferida e garante "céu de brigadeiro" rumo ao hexa
Marcos Saeger ao lado do ex-lateral-esquerdo Roberto Carlos, pentacampeão (Foto: Divulgação)
Há no Brasil
um homem que comandou Romário, Bebeto, Ronaldo, Rivaldo, Ronaldinho, Kaká e
Neymar. Não é Felipão nem Parreira, tampouco Zagallo. Trata-se de Marcos
Saeger, comandante que pilota o avião da Seleção na Copa do Mundo de 2014. Do
Rio para São Paulo, Fortaleza, Brasília, agora Belo Horizonte. E um currículo
invejável na bagagem. Foi ele quem conduziu a equipe em 1994, no
tetracampeonato conquistado nos Estados Unidos.
O principal
padrinho desse longo casamento é o ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira,
amigo e mentor de sua “convocação” nos anos 90. Resgatado no ano passado, na
Copa das Confederações, Saeger é o responsável pelas viagens de 2014, regadas a
samba, amendoim e refrigerante e, ele garante, sem turbulências.
O primeiro
voo do comandante com a delegação brasileira foi em 1993, para Guayaquil. Os
atletas eram pressionados por uma campanha irregular e Teixeira aprovou a
interação do comandante com o grupo. Na época, ele trabalhava na Varig,
companhia aérea que teve falência decretada em 2010. Depois de 21 anos, muitas
viagens juntos e uma breve separação, Saeger foi reconhecido em 2013 por um
membro muito especial do tetra.
- O Parreira
me viu e disse que eu seria o piloto deles novamente. Acabei fazendo a Copa das
Confederações, um amistoso em Boston e outros internos - relata o piloto.
Carlos
Alberto Parreira era o treinador em 94, e hoje é coordenador técnico da CBF.
Diante do pedido da entidade e dos critérios da Gol, atual companhia de Saeger
(idade, tempo de voo e de empresa), o comandante voltou a ser escalado para
guiar a seleção brasileira.
Desde o dia
26 de maio, quando o grupo se apresentou em Teresópolis, já foram dez viagens,
sempre em voos fretados. Em cada uma, cenas se repetem: Felipão no corredor, na
poltrona 1C, ao lado de Parreira e do chefe de delegação, Vilson Ribeiro de
Andrade, presidente do Coritiba. É da metade para trás do avião que ecoa o
samba.
Comandante e sua equipe exibem bandeira do Brasil em voo da Seleção (Foto: Divulgação)
- Tive
contato com muitos jogadores, desde o Romário, passando pelo Ronaldo e até o
Neymar. Agora é uma galera bem mais nova, o Julio César é o único veterano. Mas
são bem unidos, animados, tocam pagode o voo inteiro. A reunião deles acontece
ali na janela de emergência, que tem mais espaço.
Na noite da
última segunda-feira, a classificação para as oitavas de final foi intensamente
comemorada nos cerca de 70 minutos que durou a volta de Brasília para o Rio de
Janeiro, após a goleada sobre Camarões. O comandante afirma que nem tropeços
como o empate diante do México inibem o pagode aéreo. Ele vê no capitão Thiago
Silva o jogador mais fechado do grupo, o mais sério. E repara na alegria de
Neymar, a simpatia de Bernard, as brincadeiras de Marcelo...
Mas, apesar
da alegria, o passar do tempo mudou a cara dos voos da Seleção. Saeger diz que
hoje há o “padrão Fifa” de viagens. Membros da entidade acompanham cada equipe
nos trajetos feitos durante a Copa do Mundo. Jornalistas não entram e uma das
principais diversões dos jogadores também foi banida: a entrada deles na cabine
de comando.
Sempre
mando mensagens que saem na hora, não escrevo antes. Os jogadores
gostam de algo mais comovente porque é um grupo muito jovem, mas com um
peso muito grande de ganharem a Copa no Brasil
Marcos Saeger, comandante da Seleção brasileira
-
Antigamente era permitido, os jogadores iam mais. Hoje, por conta de uma lei da
Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), a cabine fica o tempo todo de porta
fechada. Só tenho contato quando saio um pouco - relata Saeger.
Esse contato
é suficiente para conhecer o gosto dos jogadores: o campeão de audiência é o
saco de amendoim. Como os percursos não são longos, só há petiscos, e
acompanhados de refrigerante, água ou sucos, já que a comissão técnica veta
qualquer bebida alcoólica.
Aos 57 anos,
o comandante não esconde que sente saudade dos tempos em que havia mais
liberdade a bordo. No tetra, por exemplo, ele colecionou bons amigos entre os
jogadores: Cafu, Raí, Ricardo Rocha, Dunga e o baixinho Romário, craque da Copa
de 94 que profetizava a cada voo:
- Ele dizia
que brasileiro não está nem aí para jogo bonito, ele quer é ganhar e saber de
gol. E que ele faria aquela Copa, e fez mesmo.
Os Estados
Unidos permitiram que a companhia mantivesse seu avião no país e fizesse todos os deslocamentos internos durante a Copa. A
tripulação era sempre a mesma e ganhava ingressos de Teixeira para assistir aos
jogos. Era uma tortura, já que o sexteto precisava se retirar do estádio no intervalo,
ou no máximo no início do segundo tempo. Sem trânsito, eles rapidamente
chegavam ao hotel, se arrumavam e partiam rumo ao aeroporto para deixarem o
avião pronto.
No penta
conquistado na Ásia, em 2002, Saeger teve participação indireta. Conduziu a
Seleção nas Eliminatórias e foi ao Mundial a convite do ex-presidente da CBF. Em
2014, ele ainda não conseguiu ver nenhum jogo. Espera ansiosamente pela final
no Rio de Janeiro. Enquanto isso, orgulha-se de jamais ter passado por turbulências mais sérias com os jogadores brasileiros.
- Até nisso
sou pé-quente. A Seleção viaja em céu de brigadeiro (risos).
Saeger também virou um “placar eletrônico” da
Seleção. É ele quem informa os placares dos jogos na Copa que acontecem
enquanto os jogadores estão no ar. A partir das oitavas de final, ele pretende
mandar mensagens ainda mais emotivas e motivadoras no sistema de som da
aeronave. É o sonho do time brasileiro e também o seu: fechar o ciclo com o
hexa em casa. Um sonho para quem voa alto.
David Luiz e Thiago Silva comemoram classificação às oitavas de final em voo do Brasil (Foto: Ricardo Stuckert / CBF)
Nenhum comentário:
Postar um comentário