quarta-feira, 5 de novembro de 2014

05/11/2014 15h02 - Atualizado em 05/11/2014 15h55

‘Nunca é tarde para estudar’, diz dona de casa que fará o Enem aos 55 anos

Marinete Sousa fará pela primeira vez o Exame Nacional.
Dona de casa divide o tempo entre estudos na internet e tarefas domésticas.

Rodrigo SalesDo G1 AP
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Marinete Sousa, 55 anos, fará o Enem pela primeira vez em 2014. (Foto: Rodrigo Sales/G1)Marinete Sousa, 55 anos, fará o Enem pela primeira vez em 2014 (Foto: Rodrigo Sales/G1)
Aos 55 anos, Marinete Neves Sousa, fará pela primeira vez o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). O sonho é cursar o ensino superior, indecisa entre os cursos de farmácia e serviço social, a dona de casa já pensa nas graduações que pretende fazer, mas adianta que a maior vitória é poder chegar à faculdade.
A dona de casa se divide entre as tarefas de casa e os estudos. (Foto: Rodrigo Sales/G1)Dona de casa se divide entre as tarefas de casa e
os estudos na internet (Foto: Rodrigo Sales/G1)
Há dois anos Marinete conseguiu concluir o ensino médio através do exame de massa [prova para avaliar os conhecimentos e acelerar os estudos]. Agora o desafio é estudar e ter um diploma.
Para estudar, Marinete utiliza livros e principalmente a internet. A dona de casa garante que não é fácil conciliar com as tarefas de casa.
“Antes de voltar para a escola, eu estudava em casa mesmo, sozinha. Comecei a fazer exame de massa com o apoio dos meus filhos, que sempre diziam ‘nunca é tarde para estudar. Vá estudar mãe’. Me divido entre as tarefas de casa. Mas sempre pego um livro pra ler ou uma reportagem para me manter atualizada”, conta.
Mas, foi ao cursar Libras que Marinete decidiu fazer o Enem. “O que me motivou foi a primeira aula que tive no curso. Na hora da apresentação dos alunos, todos começaram a dizer quem eram e a formação que tinham. Quando chegou a minha vez eu fiquei com vergonha, porque todos eram pedagogos, professores e advogados, eu era só uma dona de casa. Isso fez eu me sentir muito pequena", lembra emocionada.
Natural do município de Chaves, no interior doPará, Marinete não teve oportunidade de concluir os estudos. Quando criança cursou até a segunda série do ensino fundamental.
“A dificuldade era muito grande. Eu e meus irmãos colocávamos nossas roupas em um saco plástico para atravessar o caminho de lama que levava até a nossa escola. Muitas vezes íamos em jejum, porque em casa não tinha o que comer”, lembra.
Aos 15 anos Marinete se casou e mudou-se para Macapá, onde tentou continuar os estudos, mas acabou parando novamente, desta vez, na quarta série do fundamental.
“Me mudei para o Jari [município distante 265 quilômetros da capital], nunca mais estudei. Mas fiz questão de que meus filhos estudassem e todas as vezes que eles chegavam com atividades para fazer eu deitava com eles no chão e ensinava, eu aprendia mais do que ensinava. Eu gostava de estudar. Aprendi muito com os meus filhos”, conta emocionada.
A família foi quem deu o maior apoio para que Dona Marinete voltasse a estudar. (Foto: Rodrigo Sales/G1)A família foi quem deu o maior apoio para que Dona Marinete voltasse a estudar. (Foto: Rodrigo Sales/G1)
Mãe de três filhos, ela tem orgulho de vê-los todos formados. Um deles é agente penitenciário e formando em jornalismo. Outro é formado em História e a única filha concluiu Gestão de Recursos Humanos. Marinete sonhava em cursar direito, ser uma advogada ou uma juíza. Hoje as disciplinas que mais gosta são história, geografia e ciências, o que faz a estudante ficar indecisa entre cursar farmácia ou serviço social.
Elissandra Souza, filha mais nova de Marinete, diz que os filhos sempre incentivaram a mãe a estudar. (Foto: Rodrigo Sales/G1)Elissandra Souza, filha mais nova de Marinete, diz
que os filhos sempre incentivaram a mãe a estudar.
Foto: Rodrigo Sales/G1)
Os filhos são os maiores incentivadores de Marinete, lhe ajudando com as atividades de casa e dando força para que ela não desista de estudar.
“Pra nós que somos filhos é um orgulho. Não imaginávamos que ela pudesse chegar nessa etapa. Ela fez com dificuldades os exames de massa e quando terminou o ensino médio a primeira coisa que disse foi que o próximo passo era a faculdade. Como nunca é tarde, incentivamos ela”, conta a filha Elissandra Souza, de 31 anos.

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