sexta-feira, 18 de julho de 2014


18/7/2014 às 08h37 (Atualizado em 18/7/2014 às 09h57)

Rebeldes permitirão acesso de investigadores a área de queda de avião

Boeing 777 caiu em região ucraniana sob controle de rebeldes pró-Rússia
BBC Brasil
Caixas-pretas do avião que caiu foram recuperadas; uma delas teria sido enviada a Moscou AP
Separatistas pró-Rússia no leste da Ucrânia vão permitir o acesso de investigadores internacionais à área da queda do avião da Malaysia Airlines, disse nesta sexta-feira (18) a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (Osce).
Especialistas dizem que a análise dos destroços — possivelmente até mais que das caixas-pretas — pode oferecer as melhores pistas para desvendar o que ocasionou o incidente.
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A aeronave, um Boeing 777, levava 283 passageiros e 15 tripulantes e caiu em uma região sob controle dos rebeldes na quinta-feira. Não há sobreviventes.
Separatistas se comprometeram a "isolar a área da catástrofe e permitir que autoridades locais iniciem os preparativos para o resgate dos corpos", disse a Osce em comunicado. Eles também irão cooperar com autoridades ucranianas.
As causas da queda da aeronave ainda são desconhecidas, mas ucranianos e russos se acusam de terem derrubado o avião com um míssil.
O voo MH-17 ia de Amsterdã para Kuala Lumpur e caiu entre Krasni Luch, na região de Luhansk, e Shakhtarsk, em Donetsk, no leste da Ucrânia, onde separatistas e forças ucranianas se enfrentam desde abril.
O presidente da Ucrânia, Petro Peroshenko, falou em "ataque terrorista", e o da Rússia, Vladimir Putin, disse que a aeronave não teria caído se as operações militares não tivessem sido retomadas na área.
Um assessor do Ministério do Interior da Ucrânia disse que o avião foi atingido por um míssil, mas nenhuma versão foi confirmada até o momento.
Destino das caixas-pretas
Poucas horas depois do acidente, a agência de notícias russa Interfax citou um porta-voz dos rebeldes pró-Rússia, Konstantin Knyrik, informando que eles teriam encontrado a caixa-preta do avião e que tinham a intenção de enviá-la para a Rússia. Os rebeldes negaram a informação.
Um cinegrafista da agência de notícias Reuters afirmou que uma segunda caixa-preta havia sido encontrada por equipes de resgate.
Michael Clarke, diretor-geral do Departamento de Estudos em Defesa e Segurança do Royal United Services Institute, disse que a investigação sobre as causas da queda do avião pode levar "meses".
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"Os destroços estão em território separatista e eles (rebeldes) estão dizendo que eles enviaram as caixas-pretas para Moscou. Se as caixas-pretas foram para Moscou, então poderemos ter meses e meses de prevaricação", disse Clarke à Rádio 4 da BBC.
— Então, vai levar um tempo até que se estabeleça exatamente o que aconteceu.
Nas últimas semanas, rebeldes separatistas pró-Rússia conseguiram derrubar vários aviões militares usando mísseis na mesma área no leste da Ucrânia.
"Todas as provas são circunstanciais, mas tudo aponta para um sentido: os separatistas" como responsáveis pela queda do avião, disse Clarke.
Pistas limitadas
O consultor de segurança de aviação da Mackey International, Keith Mackey, disse à BBC Mundo que acredita que nenhuma das duas caixas-pretas da aeronave será capaz de revelar o que realmente ocorreu.
"A primeira funciona como um gravador convencional e coleta os sons e conversas que ocorrem entre os membros da tripulação e através do rádio. A outra, o gravador de dados de voo, registra a altitude da aeronave, a sua velocidade, rumo, pressurização etc", disse.
Mas, se o avião foi atingido por um míssil, não há muito o que as caixas-pretas possam revelar, disse Mackey.
— Se a tripulação sobreviveu ao impacto é provável ouvir uma gravação do momento em que estavam caindo. No entanto, o registro de dados só mostrará uma aeronave sendo destruída.
Se este for o caso, Jason Rabinowitz, especialista em aviação em Nova York, concorda que é extremamente improvável que qualquer uma das duas caixas-pretas revele informações precisas sobre o que aconteceu.
"O gravador de voz da cabine teria gravado o que os pilotos disseram, se é que eles chegaram a dizer algo antes do acidente. O registro dos dados de voo mostrará somente se houve falhas e anomalias após o avião ter sido atingido, se é que algo foi gravado", disse Rabinowitz à BBC.
Os destroços
Para os analistas, a análise completa dos destroços da aeronave será a maneira mais lógica para saber exatamente o que aconteceu.
Segundo Mackey, o fato de os destroços estarem espalhados por uma vasta área pode indicar que o avião explodiu em altitude elevada. Essa informação foi, de certa forma, confirmada por testemunhas, que afirmaram terem visto a aeronave se despedaçando no ar.
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"Ouvi duas explosões. Saí e vi a fumaça preta", disse uma testemunha à BBC. "Vi fragmentos voando em direções diferentes", disse outra.
O piloto comercial Robert Mark, editor da revista Aviation International News Safety, concorda que o mais importante é a análise dos destroços da aeronave. Para ele, a forma como as partes se espalharam pelo chão deverão ser estudadas.
"Se elas estiverem muito próximas, em uma área de alguns metros, isto significa que o avião estava intacto quando caiu", diz o piloto.
"No entanto, se, como informações iniciais sugerem, os vestígios estiverem espalhados por uma área muito grande, então o avião se partiu no ar", explicou.

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